Um ginecologista brasileiro famoso esteve envolvido em campanhas de esterilização em massa, e também no desenvolvimento desse implante que hoje é muito ligado à estética
imagem: reprodução
No terceiro episódio da nossa terceira temporada, “Opoterapia: a exclusão aplicada”, mencionamos brevemente a história do “chip da beleza”, um implante hormonal de nome autoexplicativo.
Não deu tempo, contudo, de falar de seu criador, que já apareceu aqui no Ciência Suja. Trata-se do médico ginecologista baiano Elsimar Coutinho, que morreu de Covid-19 em 2020.
Coutinho foi citado no segundo episódio da temporada de estreia do podcast, “Eugenia: ciência da exclusão”, por seu envolvimento com campanhas de esterilização em massa supostamente destinadas a mulheres negras e pobres em seu Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana, o CEPARH.
Na década de 1980, o CEPARH oferecia procedimentos de esterilização sob uma perspectiva eugênica. Entre as peças de divulgação da campanha, há uma série de mensagens que associam imagens de crianças e mulheres negras e indígenas à pobreza e à criminalidade.
O médico chegou a defender que a campanha de controle de natalidade que sua instituição promovia ajudou na diminuição dos marcadores de violência na Bahia.
O surgimento do “chip da beleza”
Anos depois, Coutinho desenvolveu um implante com gestrinona, um hormônio sintético da progesterona. Segundo o site da sua clínica, que ainda existe, o implante de gestrinona “não é próprio para fins relacionados à estética, e sim para a contracepção ou tratamento de doenças decorrentes do ciclo menstrual".
Só que, na verdade, o chamado "chip da beleza" tem sido utilizado por influencers e celebridades com fins estéticos, por supostamente favorecer a perda de peso e redução da celulite.
Não só não existem evidências desses benefícios como a prática é contraindicada por especialistas. Entre os possíveis efeitos colaterais estão a ocorrência de acne, aumento de oleosidade, queda de cabelo, alterações no timbre da voz e no clitóris.
A própria utilização deste hormônio como contraceptivo é questionável, uma vez que já existem tratamentos mais eficazes e que oferecem menos efeitos colaterais.
Hormônios, estética e eugenia
A história do “chip da beleza” apareceu brevemente no segundo episódio da terceira temporada do Ciência Suja, que contou os absurdos da opoterapia, uma terapia hormonal pra lá de controversa do início do século 20.
A opoterapia, ou organoterapia, previa enxertos de glândulas de animais e uso de hormônios para corrigir supostos "defeitos" de pessoas consideradas desviantes, ou até degeneradas, numa espécie de aplicação prática da eugenia.
Ao mesmo tempo, era celebrada popularmente como uma “fonte da juventude” e virou febre entre os anos 1920 e 1940. Décadas depois, ideias eugênicas, hormônios e terapias milagrosas com fins estéticos seguem caminhando lado a lado.
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