
EP#05
A nova cara dos anabolizantes
Chip da beleza, modulação hormonal, hormonologia… Nos últimos anos, um monte de expressões vendedoras foram usadas para maquiar a prescrição de anabolizantes para fins questionáveis. E isso com base em deturpações da ciência.
Nesta investigação, mostramos como atuam os médicos e as empresas que lucram com essa repaginação dos anabolizantes, que se expandiram do mercado underground para clínicas luxuosas e para o universo das redes sociais.
Este episódio foi apoiado pelo Pulitzer Center. O Ciência Suja também é financiado pelo Instituto Serrapilheira.
Reportagem “A febre dos hormônios”, da Veja Saúde, que também faz parte do projeto do Pulitzer Center: https://saude.abril.com.br/medicina/a-febre-dos-hormonios-cresce-uso-indevido-de-testosterona-e-companhia/
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Abaixo, a transcrição do áudio enviado por Marcelo Bella, presidente da Blackskull:
Marcelo Bella, presidente da Blackskull
(através de uma mensagem de áudio por WhatsApp)
A fundação da Blacskull Pharma tem como objetivo trazer suplementos alimentares que nos Estados Unidos são vendidos normalmente, como produtos manipulados, em parcerias, em hubs, através de farmácias de manipulação brasileiros. Nós já temos dois parceiros importantes, estamos ampliando esse trabalho.
Na área de hormonologia, nós percebemos que o Brasil vem sofrendo com uma grande onda de produtos underground. E isso tem a ver inclusive com lavagem de dinheiro e facções criminosas. Estamos combatendo isso já há alguns anos, através da nossa associação, a Abenutri, já conseguimos estourar alguns laboratórios underground no Brasil, mas a gente percebe que o trabalho é muito incipiente, porque muitos dos laboratórios que estão até fora do país, ou se colocam teoricamente fora do país para poder fazer propaganda, patrocinam atletas brasileiros. Então isso a gente percebe que é uma distorção na área de saúde, na área de utilização de hormônios.
Através da nossa área científica, nós fizemos um trabalho junto ao conselho e fizemos um movimento para que, ao contrário do que parece, ao invés de incentivar as pessoas a consumirem hormônio para a área de estética e performance, na verdade a gente quer falar de saúde, e existem muitos caminhos antes dos hormônios que as pessoas podem buscar. Existem ervas, suplementos nos Estados Unidos que aqui são considerados medicamentos e que podem ser utilizados antes dos hormônios.
Então eu tive a seguinte ideia: já que é para usar algum tipo de hormônio, primeiro: utilize um hormônio do qual você saiba a origem e confie na marca. Por quê? Porque a maioria desses hormônios que são vendidos via underground no Brasil, o doutor Lucas Caseri fez uma pesquisa à qual ele divulgou em um livro, que 50% desses produtos são falsos, adulterados. Eles podem trazer males de contaminação, que são preparados sem nenhum nível de ambiente controlado, higiene e tudo mais. Então o primeiro ponto é que, se quiser usar alguma coisa, que utilize do Brasil algo com origem e controlado.
Segundo: esse negócio de comprar hormônios no Brasil sem receita também tem que terminar. Nos anos 90, eu fui responsável ao lado do Alexandre Paganelli, que era presidente da Associação Brasileira de Estudos de Combate ao Doping, e também era presidente da Federação Internacional de Bodybuilding no Brasil, a confederação brasileira de musculação, e nós fizemos um trabalho para que houvesse receitas para se comprar, ter acesso a anabolizantes famosos da época. E nós conseguimos êxito.
Com os laboratórios underground, isso caiu por terra novamente. Então fizemos um trabalho através de médicos, então médicos podem se associar, principalmente médicos que trabalham com endocrinologia e querem trabalhar com pessoas para recuperarem a parte hormonal… eu recebi testemunhos, por exemplo, de médicos que receberem jovens com menos de 30 anos com a testosterona alta, mas com libido baixa e cansaço. Isso significa utilização de anabolizante esteroide de forma descontrolada, levando essas pessoas a perderem saúde. Então estamos convidado cada vez mais pessoas e médicos para que possam estar conversando com essas pessoas.
Logo quando nós iniciamos o projeto, a gente recebeu mais de 500 pedidos de hormônios, e a gente atendeu nem 10%. Por quê? Porque muita gente mandando receita falsa, receita com outros objetivos, então a gente na verdade está querendo moralizar e controlar. Se os laboratórios farmacêuticos no Brasil voltarem a ter produtos brasileiros confiáveis e os médicos puderem trabalhar com suplementos, e agora falando de suplementos que possam promover a testosterona de forma natural no organismo, a gente vai conseguir combater esse mercado underground.









ENTREVISTADOS
Bruno Gualano
profissional de educação física, professor da Faculdade de Medicina da USP e do Centro de Medicina de Estilo de Vida, da mesma faculdade.
Hamilton Roschel
nutricionista e membro do Centro de Medicina do Estilo de Vida.
Rafael Azevedo
profissional de educação física e membro Centro de Medicina do Estilo de Vida.
Cadu Viterbo
médico do esporte, ortopedista e influenciador digital com foco em ciência.
Alexandre Hohl
endocrinologista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina.
Marcelo Bella
presidente da marca Blackskull.
Marcelo Bueno
presidente de uma confederação de fisiculturismo natural, a Natural Bodybuilding e Fitness Brasil (a Inba Brasil).
Priscila Moreira
odontologista que recebeu um implante hormonal e sofreu efeitos colaterais.
Clayton Macedo
endocrinologista e médico do esporte. Coordena o Núcleo de Endocrinologia do Exercício da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e é diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). Também coordena o projeto “Bomba Tô Fora”.